domingo, 1 de outubro de 2023

 

A angústia de um pesar


    Durante a madrugada me vieram lembranças. Um tanto quanto estranha a minha alma estava que, ao perder o sono, entrei profundamente no universo da reflexão. Comecei a tentar entender a angústia que passou a existir em meu peito de uns tempos para cá. Aos poucos fui me lembrando de quando comecei a perceber esse quadro de angústia que não passa. Deve ter uns três anos ou mais um pouco.

    Todo dia sinto um desconforto no peito. Acordo com um gosto de desgosto na boca. Fico repassando os momento vividos no meu dia a dia e não encontro nada que tenha acontecido de ruim, em meu particular, para que se mantenham esses sentimentos.

    Na madrugada de segunda para terça, revi esses últimos três anos e entendi o que me angustia. O sentimento de um mal pairando em nossas cabeças. Brigas constantes, ofensas, mal entendidos, notícias mentirosas que confundem a cabeça dos menos afortunados na leitura. Obscurantismo, ideias estapafúrdias, criaturas saídas do inferno da terra. Assim como se fosse uma espécie de Walking Dead. Entristeço ao lembrar de pessoas amigas que vejo defendendo isso tudo. Como se fosse apenas uma questão de opinião.

    Comportamentos fascistas, de extrema direita, estão acontecendo no Brasil e tendo seguidores. Isso é fato. Gostar desse comportamento fascista - aí sim - é opinião. A terra é redonda e isso é um fato. Não é questão de opinião. As pessoas estão com fome e isso é um fato. Não é questão de achar ou não achar. O fumo revela dependência química e isso é um fato, não é acho ou não acho que sou dependente químico se eu fumar. Fato é fato. Infelizmente, pessoas sem convicção nenhuma ouvem outras pessoas com convicção desse extremismo que tomou vulto e apoiam.

    E, desta maneira, seguem os dias. As eleições para presidente da República estão perto. Lá, na cúpula do poder, estão em alvoroço. São poderosos brigando com poderosos. E por que são poderosos? Porque sabem mais do que a maioria de nós como aquilo tudo funciona. Porque damos àquelas pessoas tanto poder que manipulam nossas ideias. E o interesse delas fala muito mais alto. E vem argumento pesado nessas campanhas. Peço a Deus que nos dê discernimento.

    Nesse momento me atenho ao que me angustia, ou seja, ao mal que ronda nosso país, que nunca mais será o mesmo. O fascismo de extrema direita entrou na cabeça de muita gente sem noção. E também de muita gente inteligente, é onde está o perigo, pois nesses casos ele já existia, o que faltava era estar no poder. Guerra cultural. Como se os exemplos desse comportamento negativo em outros países não fossem suficientemente capazes de dar um basta.

    Fascismo de extrema direita, em que um cidadão negro se enche de empáfia e se torna inimigo da mesma cor, em que uma cidadã branca se une a um grupo extremista e acampa em frente ao Palácio do Planalto, ofende magistrados como se essa fosse a solução para um país falido de orgulho. O atual chefe do Executivo, 2022, ofende uma jornalista em público e dizem que é questão de liberdade de expressão. Entre outros aspectos evidentes de fascismo que me perderia em tantos para elencá-los.

    Palavras de impacto como família, liberdade, Deus, pátria, são impostas para pessoas acreditarem no poder de quem as espalha com veemência falsa. Desde quando - eu pergunto - a família se perdeu? Família, para quem não sabe ou não parou para pensar, é inerente à humanidade. Ninguém acaba com a família. O que acontece, e isso faz parte da evolução humana, é mudarem os modelos de família. O que é saudável. Imagine você – e eu estou generalizando - uma família de pai, mãe e uma filha e um filho. Modelo bem tradicional. Morreria na hipocrisia. Sucumbiria com a falta de criatividade. E liberdade, Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada que você pode usar do jeito que quiser”, não é a permissividade de ofender. Ofender é injúria. Inventar acontecimentos e ir além compartilhando não é liberdade. É difamação, calúnia, desinformação. E quanto a Deus, Deus está em nossos corações... ou não. Pátria acima de tudo é fascismo.

O mais importante é o bem de todos. Lutar pelo bem comum. A economia, a saúde, a educação, a segurança pública, o meio ambiente, tudo isso deve prevalecer em vez de tanta estupidez ideológica, que não nos levará a lugar nenhum.

Dividir um pouco a minha angústia, talvez minimize meu pesar. O mais triste é que, de qualquer jeito, o Brasil ficará com marcas indeléveis desses momentos estúpidos e insanos que estão nos fazendo passar.

Escrito em 2022

quinta-feira, 8 de abril de 2021

O POVO BRASILEIRO ACEITA TUDO

 


O povo brasileiro aceita tudo. Aceitamos andar de ônibus cheios, ou melhor, lotados, mesmo na pandemia em que o grau de contaminação do vírus é altíssimo. Aceitamos votar em políticos ladrões, fascistas, condenados, negacionistas, traficantes, extremistas, supremacistas. Aceitamos impeachment de gente íntegra. Aceitamos golpes de Estado escancarados, por puro delírio e interesses. Aceitamos assassinatos em plena luz do dia ou em plena escuridão da noite. Aceitamos ser roubados na rua por moleques ou por bandidos graduados, não importa. Aceitamos assassinato premeditado. Aceitamos homicídio de gente honesta na luta contra mafiosos de bermuda, gravata ou de farda, ou todos juntos. Aceitamos não ter comida na mesa, não ter emprego, não ter oportunidades nem de progredir na formação escolar. Aceitamos os índices mais estapafúrdios de morte por uma doença invisível para alguns. Aceitamos a desigualdade social e nos fazemos de vítimas em vez de lutar.

Aceitamos discutir nas redes sociais e, se bobear, agredir ou sermos agredidos. Aceitamos piadas, indiretas, descaso, desonestidade, com o fim de não nos aborrecermos. Aceitamos a dor de famílias carentes. Aceitamos a tristeza de conhecer relatos de sofrimentos, mas nada fazer. Aceitamos humilhações quando somos funcionários de empresários cruéis, egoístas e ambiciosos. Aceitamos mudanças nocivas nos direitos duramente conquistados, por fraqueza de espírito. Aceitamos a construção de um brasil paralelo em que se destroem de modo escuso o bem construído, a duras penas, e todos assistem quietos. Aceitamos boatos, informações falsas e ainda compartilhamos. Aceitamos a falta de consideração. Aceitamos a inveja como rótulo de indignação coletiva.

Aceitamos gritos de fanáticos em uma pantomima patriótica. Aceitamos tudo que fazem e o que desfazem. Aceitamos, de maneira subserviente e enfática, a hegemonia cultural norte-americana. Aceitamos não conhecer a nossa língua oficial por ser difícil e cheia de regras, na opinião de alguns preguiçosos ou desinteressados, como se esse saber não significasse soberania. Aceitamos buracos nas ruas, água poluída, desmatamento, asfaltos podres, enchentes seculares, sorrisos falsos em fotos de famílias pseudofelizes, apertos de mão superficiais no calor das eleições. Aceitamos a milícia, a polícia arbitrária, o autoritarismo, a misoginia, o racismo, a aversão por escolhas pessoais. Aceitamos o orgulho e a empáfia dos que se dizem conservadores, cuja via principal é a manutenção de toda espécie de preconceito.

O brasileiro aceita tudo mesmo. Um povo cordial, pacato. Seremos sempre lembrados assim na história, a não ser que antes sejamos arrebentados pela atual pandemia e tragados, sem despedida, pela terra.

Não havendo despedida penso que nem se lembrarão de nós. Não se lembrarão de um povo que, perdoe a hipérbole bem aplicada, aceitou ser exterminado, pois, dando asas à incoerência, escolheu a mentira que cega. Continuou participando de festas e baladas, porque muito tinha a comemorar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020



Vídeo com o áudio do conto  PURA DISTRAÇÃO
 
Conto do livro Dois, antologia lançada pela minha editora, em 06 de maio de 2017, escrita por duas pessoas, sendo uma mulher e um homem.
Vale a pena ouvir e, se quiser comprar, entre no site da editora ideiaeideaiseditora.com e faça um contato.
 
 
 

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Eutanásia - Uma obra dedicada à vida



Fernando Luiz de Pércia Gomes acaba de publicar seu primeiro livro: Eutanásia - Uma obra dedicada à vida, com a coordenação editorial d Ideia e Ideais Editora. O assunto árido e também polêmico é tratado neste livro a partir de um trabalho meticuloso de pesquisa em obras de consagrados escritores. Conteúdo que o autor entremeia com artigos sobre eutanásia que escreveu e publicou em jornais da cidade, quando o assunto era quase um tabu, e, de coração aberto, narra experiências vividas por ele que emocionam. Sem evasivas, não deixa dúvidas sobre sua posição em defesa da vida. Relembra fatos ocorridos na cidade de Petrópolis, na segunda metade do século XX, e nos oferece excelente material para reflexão.
Fernando é petropolitano, advogado, jornalista, escrivão da Justiça aposentado e 1º Tenente R/2 do Exército Brasileiro. Devido à pandemia, aguarda um momento mais adequado para realizar o lançamento físico de seu livro, por isso está sendo planejado um pré-lançamento on-line, cuja data, em breve, será divulgada. A pré-venda já está acontecendo pelo Facebook, em algumas bancas de jornais da nossa Petrópolis e no site da editora. O projeto gráfico é do designer André Hansen.


quinta-feira, 2 de julho de 2020

POR INTERMÉDIO DOS LIVROS, EU FALO SOBRE...



Travessias no aspecto desafiador do comportamento humano

Sugiro a leitura de:
História de Savanas e Glaciares Africano, de Marcelo Lemos 

Este livro é fruto de perseverança, comprometimento, atingimento de metas em busca de um ideal. Apesar de inicialmente se deparar com experiências mal sucedidas e dificuldades à toda prova, Marcelo Lemos insiste e persiste na realização dessas aventuras no continente africano e as torna realidade. Um legado histórico do continente dá a esta obra o mérito de utilização para pesquisa de dados, detalhes do sofrimento de um povo enriquecem o conhecimento do leitor e fazem com que nos solidarizemos com a dor daqueles que vivem uma discriminação secular.
O autor Marcelo nos deixa uma lição, ou melhor, várias lições de superação. Revela-nos a sua luta para conseguir verba para a próxima viagem, o seu encontro com a companheira e mãe de seus dois filhos, os lugares por onde passou, a história dos povos africanos, a exploração que sofreu esse continente, os momentos de tensão nas ascensões dos maciços montanhosos, a preparação psicológica e física para essas ascensões. Baseia-se em três pilares: família, estudo e esporte para dirigir a vida e procura deixar esses valores para seus amados filhos.
Entremeia as partes do livro, que são duas Tanzânia e Uganda, com fotos belíssimas.

O resultado final saiu em pouco mais de um mês. Quando acessei a internet, o coração pulsando rapidamente e sem pensar no que aconteceria se eu não fosse classificado, vi minha colocação: primeiro lugar!”


Pensei em todas as pessoas que eu gostaria que estivessem vendo aquilo. Uma emoção sem controle tomava conta do corpo, da alma e da mente. Finalmente eu estava no topo da África, no Kilimanjaro!”


História de Savanas e Glaciares Africanos tem uma linguagem simples de fácil leitura. São catorze capítulos que compõem as duas partes do livro. Uma leitura gostosa e agradável. Vale a pena superar as dificuldades para chegarmos ao topo do nosso objetivo.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

A chuva, a terra e você


Gosto de olhar a chuva,
de ouvir o som da água chegando.
Gosto de sentir a frescura do ar,
de molhar a mão,
molhar o rosto,
na água da chuva,
que vem refrescar a terra.

Gosto de olhar para a chuva,
de olhar a cor azul do céu sumindo.
Gosto de sentir a calmaria aparente,
de pertencer ao grão,
pertencer ao chão da terra,
que a chuva há de encharcar.

Gosto de olhar através da chuva,
de tocar na gota que escorre do fio.
Gosto de sentir nos cabelos,
de sentir no corpo,
o gelo da água da chuva,
que vem refrescar a terra.

Gosto de olhar na cor da chuva,
de imaginar a chuva azulando.
Gosto de sentir o gosto da chuva,
de experimentar o sal,
experimentar o doce da terra,
que a chuva há de encharcar.

Gosto do barulho vagaroso da chuva
a chegar do céu ao chão.
Gosto de sentir o frescor do ar,
o friozinho que brota do mar.
E molhar meu corpo
em meio a água da chuva,
que vem refrescar a terra.

Gosto do seu corpo na chuva,
de pensar nele ao meu encostando.
Gosto de olhar você,
de sentir seus lábios molhados,
senti-los sobre os meus.
Corpos deitados na terra,
que a chuva há de encharcar.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

SINTO VERGONHA…




Domingo. Pede cachimbo, dizia minha vó materna. As tradições de família, as lembranças do jeito de ser das pessoas… Foi em um domingo, um desses, estive em um evento literário em Petrópolis. E um momento me transformou. Sei que a literatura tem o poder de iluminar as mentes. Um livro pode fazer grandes alterações em nossa forma de enxergar a vida.
O mote do bate-papo era a antologia Negras Crônicas : escurecendo os fatos. O assunto era mulheres negras e suas vivências. O livro contém umas quarenta narrativas que dizem respeito a uma quantidade significativa de experiências ruins vividas pelas autoras publicadas.
Eu participava da roda de conversa e duas das autoras, que estavam presentes, começaram a falar sobre o livro, sobre o edital e sobre a publicação. Todavia, o assunto que tomou vulto, e não poderia ser diferente, foi a questão do racismo.
Em depoimentos bastante emotivos e indignados elas apresentaram as suas relevâncias.
Costumo fazer de minha trajetória uma jornada de aprendizado e procuro sempre melhorar como ser humano. Aos poucos, apesar de ouvir absurdos sobre os negros durante minha vida, eu passei a ter o meu próprio pensamento a esse respeito e já há bastante tempo que tirei de mim o sentimento de inferioridade que pessoas sentem pela população afrodescendente. Olhares de desdém, por mais que tenham instrução, competência e sabedoria.
Carregam um passado nas costas assim como todos nós carregamos. Porém, um passado que se mantém na cor da pele até hoje e machuca.
A conversa continuou bem acalorada. As autoras que lá estavam, mulheres cultas e bem articuladas, conduziram o assunto racismo com conhecimento de causa. A mais jovem com força no olhar e muita vontade de construir uma outra vertente dessa história de escravidão e subserviência que se mantém atual, por mais luta que haja. A mais madura com excelente performance elocutiva parecia ter no olhar mais tristeza e, devido à vivência acumulada, carregar mais decepções. Um acontecimento único em minha vida, porque até então ainda não tinha presenciado esse tipo de fala. É muito diferente assistir a entrevistas na TV, ou ler nos jornais e nas mídias de todos os tipos.
Apesar do respeito ao assunto e do meu interesse pelo que estava acontecendo, eu, como editora, tinha a curiosidade de saber sobre o que cada uma delas havia falado no livro. Quais as histórias que contaram. Eu gosto de ouvir histórias. Pensei em interromper, não foi possível. Fiquei na posição de logo que desse eu faria uma pergunta. Quando então alguém se manifestou sobre se devemos falar ou não o assunto e como é delicado tocar nas feridas das pessoas. Foi aí que eu aproveitei. Em um comentário muito breve e ingênuo disse que, em minha opinião, deve-se deixar pra lá, não ficar falando do comportamento antiético das pessoas, não é bom reforçar o negativo. Pensava que, simplesmente, se a discriminação racial nunca mais fosse lembrada, poderia acabar e se dissolver no ar.
Descobri que não é bem desse jeito.
Elas viraram para mim e, em um rompante, disseram mais ou menos assim:
- não, não devemos deixar para lá. Temos de falar o que acontece. E as outras pessoas devem nos ajudar e devem ir de encontro ao comportamento racista.
Embora um pouco sem graça, resolvi não me defender e apenas as ouvi. Uma outra moça também de pele negra se manifestou e apoiou a maneira de se revoltar dos jovens, do uso dos cabelos soltos, do orgulho de ser negro. O que eu também apoio. Eu pensei, mas não disse. Não consegui dizer.
Por fim, perguntei a respeito do que tinham escrito no livro. Uma delas contou sobre um passeio que fez com conhecidos em uma fazenda do Vale do Café. Ao visitarem a senzala, existia uma representação bem real, em cera, de negros presos e acorrentados, como se estivessem mesmo sangrando, em tamanho natural. Ela disse: doeu na pele! E ainda acrescentou que um menino negro, visitante, começou a chorar. A partir desse relato, ainda contaram mais um bocado das histórias de discriminação.
Alguns exemplos de outros países foram lembrados, em que as pessoas têm vergonha do acontecido, como o holocausto, na Alemanha, por exemplo. Aqui, no Brasil, parece que uma parte da população orgulha-se da escravidão e do que aconteceu naquelas épocas. Fora ofensas, ironias e comentários desagradáveis de alguns.
Pois é, naquela hora, um silêncio se instalou em mim, fez-me refletir mais ainda sobre a discriminação racial e de qualquer outro tipo. Aprendi que não basta só não pensar como pessoas racistas, é preciso agir. É necessário combater essa prática tão presente em nosso país. Reagir e dizer que sinto vergonha daquele comportamento de época, e repudiar de modo veemente atitudes ainda tão cruéis e semelhantes da nossa sociedade atual.
Recentemente, já modificada por aquela conversa, fui visitar uma cidade do Vale do Café: Vassouras. Estou fazendo uma espécie de tour particular em algumas dessas cidades. Eliminei as imersões às fazendas de café. Não me interesso mais por lugares de luxo e riqueza que existiam e se desenvolviam por intermédio de exploração, sofrimento e humilhação.
O livro Negras Crônicas foi escrito por mulheres negras e revelou talentos. Algumas histórias chegam a enojar de tão deprimente que é o ser humano sem noção de nossa pequenez. Mulheres fortes e trabalhadoras, estudiosas, mães, filhas, tão iguais a todas nós. Vale a pena ler para conhecer as escritoras e também sentir vergonha de fazer parte de uma sociedade tão ridícula e sórdida, nesses aspectos.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

UM BRINDE À AMIZADE! Rita Tré Becker

Churrasco da Turma do Val em 02 de dezembro de 2019, Petrô do Val.


Há muito tempo,
há muito tempo mesmo nos conhecemos…

Um grupo aqui, outro grupo ali,
meninos e meninas…

O mesmo bairro,
uns mais perto, outros mais longe,
pessoas…

Encontros memoráveis, risadas gostosas,
crescíamos juntos.
Crianças, depois jovens, agora adultos e põe adultos nisso…

Sorrisos, choros, gargalhadas,
amores, algumas dores,
saberes e falares…

Bares, muitos bares.
Noite, muitas noites
e madrugadas estreladas… ainda que chovesse!

Rolling Stones, Led Zepellin
Janis Joplin, Pink Floyd, The Carpenters,
John Travolta, Supertramp,

Caetano, Gil, Bethânia, Gal,
Chico, Tom, Vinícius, Elis…
Roberto Carlos?

Quantas memórias boas!

Mas algo aperta o coração:
é a falta que alguns nos fazem.
foram antes, bem antes …
Fica a lembrança e a saudade que dói.

Vamos em frente!
Sigamos nosso caminho.

Há muito tempo nos conhecemos, não pode ser por acaso,
o acaso não existe, não é?

O acaso é apenas uma ferramenta do destino
que nos aproximou
e até hoje nos aproxima, de um jeito ou de outro.

O tempo arruma as coisas, alguns dizem.
O tempo arrumou de nos unir.

O dia de hoje será para sempre.
Assim como a vida nos uniu um dia
e para sempre ficamos por perto uns dos outros.

Mesmo que o tempo e a distância digam não, (*) 
serão para mim únicos no mundo,
pois vocês deixaram um pouco de vocês comigo
e levaram um pouco de mim...

Um pouco de cada um de nós
criou um todo que se tornou a Turma do Val.

Viva a nossa amizade!

(*) Nessa estrofe realizei intertextualidade com Canção da América, de Milton Nascimento e um trecho de O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

AMOR E REVOLUÇÃO - um filme pertinente





Amor e revolução. Tradução em português para o título do filme original Colonia. Baseado em fatos de uma época conturbada da ditadura chilena. Um rapaz alemão é ativista no Chile contra a arbitrariedade de Pinochet, que tomou o poder após um golpe de Estado contra Salvador Allende. Daniel namora Lena, uma aeromoça, que vai ao seu encontro em um período de descanso e o encontra militando na rua.
Nas décadas de 60 e 70, os militares deram golpe de Estado em quase toda a América do Sul e se tornou uma ditadura. No Chile, durou uns 17 anos. O casal protagonista foge da opressão nas ruas, mas Daniel com o coração revolucionário resolve tirar fotos do abuso de poder dos soldados e é notado por um grupo deles. Lena e Daniel são presos junto aos outros e levados a uma triagem, quando então Daniel é reconhecido por um dedo duro e some da vista de Lena.
Na busca por seu amor, Lena descobre que o levaram para uma colonia que aparentemente era um lugar de cultos religiosos, todavia pertencia a um pregador fanático, um nazista fugitivo. Lá, ele mantinha alguns presos políticos em conluio com o ditador chileno e realizava torturas (método injustificável bastante utilizado por ditadores). O lugar era conhecido como Colonia Dignidad.
O filme aborda os acontecimentos na Colonia, de forma que ficamos sabendo como a fé usada para o mal consegue afetar a fraqueza da mente humana. Naquele local aconteciam abusos sexuais de crianças, violência contra as mulheres e empoderamento dos homens até não ultrapassarem o poder do nazista Paul Schäfer (Michael Nyqvist), além de parte do mote do filme que foi a tortura de Daniel, quase o deixando louco.
A engraçadinha Lena (Emma Watson) consegue encontrar Daniel (Daniel Brühl) e lutam para se libertarem daquele lugar. O filme faz as pessoas se indignarem, denuncia maus tratos e relata a dureza de um tempo que passou, porém deixou marcas indeléveis na América, nesse caso, no povo chileno.
O filme alemão, de 2015, é dirigido por Florian Gallenberger.


E TEM GENTE QUE AINDA APOIA TORTURADOR. VAI ENTENDER...




domingo, 28 de julho de 2019

UM CHORO QUE NINGUÉM OUVE



Chorei um choro solitário nessa madrugada,
de modo que ninguém ouviu…
Chorava o meu coração,
choravam também os meus olhos.
Sem muito alvoroço, eu chorei baixinho,
de modo que ninguém ouviu…
Apertado, o meu peito dificultava o meu respirar
e às vezes eu soluçava,
pensava na tristeza de uma nação,
em um povo sofrido.
Lembrava dos olhos daqueles miseráveis
iguais em todos os lugares, os miseráveis de Victor Hugo e
os miseráveis de todo o mundo.
Chorava dentro do peito e às vezes até tinha lágrimas,
eu as secava devagarzinho, de modo que ninguém viu…
Chorei durante um longo tempo
um choro engolido, em saltos pela garganta.
Imaginava as vozes que nunca são ouvidas,
as dores que nunca têm solução.
Chorava em silêncio, de modo que ninguém ouviu…
Um choro que não era só meu,
um chorar coletivo de gente pobre e faminta
com a humildade no olhar.
Essa gente que ninguém vê,
que chora a vida toda e ninguém ouve...
Rita Tré Becker

segunda-feira, 27 de maio de 2019

À BEIRA DO LAGO PARANOÁ



Fonte: Wikipédia

Esses dias, por acaso, na casa de amigos, assisti a uma entrevista da jornalista Andreia Sadi, na Globo News, com a esposa do vice-presidente da República, Paula Mourão. O local era de uma beleza extrema: o piso, as cores, a paisagem, um jardim imenso, o pôr do sol (uma parte da entrevista aconteceu na área externa), obras de arte espalhadas por toda a área interna. Estavam no Palácio do Jaburu, que é a residência oficial do vice-presidente de nosso país. À beira do lago Paranoá. Uma maravilha de construção!
Assuntos supérfluos, nada que fizesse motivar a curiosidade de uma telespectadora pouco interessada, na verdade, nessa entrevista. Assistindo por assistir, apenas. Muitos sorrisos, muita simpatia, todavia o que me chamou a atenção foi mesmo o local: belíssimo! De repente, a Sra. Paula Mourão recebeu um aviso de que o vice-presidente estava chegando e foi recebê-lo como – ela mesma contou – faz todos os dias. Envolto em seguranças e com a tranquilidade de missão cumprida dos generais da reserva, ele chegou. Brincadeiras e agrados à parte, voltaram à entrevista.
A seguir, a conversa bastante informal aconteceu no lado de dentro da residência. Local bastante amplo e de muito bom gosto. As perguntas continuaram suaves e de boa intenção jornalística. Nenhuma situação constrangedora e nenhuma informação relevante. Apenas uma boa conversa de comadres, eu diria.
Ah! Mas a residência oficial do vice-presidente é mesmo bela! Quanto espaço! Uma vista espetacular. Naquele momento, o sol e o lago criavam juntos uma beleza divina. Uma composição perfeita! Brasília é mesmo incrível! Naquele espaço, apenas do lado de fora, caberiam uns quatro barracos da periferia de lá, a periferia que existe em todo lugar.
Brasília - o centro do poder - é, de fato, um outro país. Naquela hora, pensei nas pessoas que vivem por aí, sem casa para morar. Confesso saber que ninguém, ou melhor, quase ninguém se importa com isso. Penso que dificilmente alguém que estivesse assistindo a tal entrevista estaria sequer lembrando dos barracos em comunidades carentes. Menos ainda dos cantos e vias das favelas em que se esconde a podridão perversa do tráfico. Quando olhei para a imagem do lago e a do pôr do sol, lembrei de uma reportagem sobre o absurdo percentual de pessoas vivendo, no Brasil, sem saneamento básico, com fezes boiando nas águas sob as janelas, se é que posso chamar de janelas aqueles quadrados nas paredes de tijolos aparentes. Um contraste dramático e incorrigível.
Local: Sol Nascente, Ceilândia, Brasília-DF
Fonte:  RadarDF, 15 jan. 2018
O destino é implacável, cada um tem o que merece nessa vida, é o que dizem por aí. Sei lá, este coração não compreende tanta injustiça social. Não adianta, digam o que quiserem, maldigam isso ou aquilo, entretanto este posicionamento será até morrer. O nome para isso é convicção. De que forma podem ser entendidos o desdém da sociedade e mais ainda o descaso das autoridades (se é que são autoridades), muito menos como se relacionar alheia à tristeza nos olhos das pessoas que vivem a pobreza e, bem mais que isso, convivem com a miséria.
À beira do lago Paranoá, o Palácio do Jaburu, uma afronta de tão belo e impávido, uma forma de mostrar ao povo o que significa tanto poder e descaramento.

  A angústia de um pesar      Durante a madrugada me vieram lembranças. Um tanto quanto estranha a minha alma estava que, ...