A
motivação a respeito deste assunto se deu devido à aplicação
constante do adjetivo lindo nas redes sociais. Antes, como eu
conheci, o sentido de lindo ocorria quando se elogiava algo
que fosse extremamente belo. Bonito demais passava a ser lindo.
Atualmente
sigo esta palavra no facebook. Impressiona a quantidade de vezes que
ela é usada em acepções diferentes da conhecida por mim até
então.
Pode
ser um rosto bonito, pode ser um laço de fita, pode ser um par de
sapatos. Também uma apresentação de teatro, uma bolsa, um bigode
estranho, uma foto horrível. Em qualquer situação, leio: tá
lindo! Que família linda! Lindo, hein! Lindona! Foto linda! E assim
por diante escreve-se o vocábulo lindo ou linda de
maneira exaustiva e, é obvio, o termo se banaliza. Os exemplos que
dei são poucos diante da profusão desse uso, é que precisaria
demonstrar inclusive com as imagens para tornar-se mais real.
Como
profissional de Letras, comecei a analisar o uso indiscriminado do
termo. Deixando de lado a minha avaliação sobre a superficialidade
das exposições individuais nas redes, parti para uma avaliação
semântica do termo em questão, o que me levou aos gigantes Aurélio e Houaiss. E como era de se esperar,
não existe a forma linda como principal, apenas como feminino
de lindo. Bem, isto posto, lindo tem várias acepções
semelhantes e todas chegam a sensações de deleite, formosura,
primor, contemplação, harmonia. Mais curiosa fiquei pelo fato de as
pessoas desconhecerem a própria língua. A nossa língua possui uma grande variedade de adjetivos com significação semelhante a lindo. Quantas palavras podem ser usadas a
fim de representar o que as pessoas denominam lindo (nas
redes)! Será, então, que o problema está na carência de
vocabulário? E não de banalização do sentido?
Existem
linguistas estudiosos em esvaziamento semântico de classes de
palavras. Cheguei a pensar que a causa fosse esse esvaziamento. Há
situações em que o uso consagra a forma, entretanto neste caso da
palavra lindo, pensei que o uso houvesse banalizado a forma e
pesquisei sobre com a finalidade de saber se já estava sendo
estudado e até mesmo concluído.
Encontrei
na Gramática de usos do português, de Maria Helena de Moura
Neves, da Editora UNESP, 2000, a seguinte definição: “é no
uso que os diferentes itens assumem seu significado e definem sua
função”. Encontrei também no site nexojornal.com, em um
artigo de título Palavras muito usadas perdem o sentido, da
jornalista Juliana Domingos de Lima, a mesma consagrada linguista
Maria Helena de Moura Neves dizer que o sentido vago que a palavra
assume tem mais a ver com má aplicação do que com o excesso de
uso. Juliana discorre sobre o assunto em seu artigo e cita termos
como ontológico, epistemológico, literalmente,
fascista, entre outros, que as pessoas por desconhecerem o
significado exato para aplicação usam de modo indiscriminado o
termo, abrangendo desta forma um significado não original. É a
língua viva a funcionar em suas infinitas possibilidades de
estruturação.
Já
quanto à palavra lindo, objeto deste artigo, todos que a
utilizam sabem o significado e a partir de então passa a ser
genérico e de fácil penetração. O que é bom, repete!!!
Não
se trata aqui de desconhecimento de significado nem de dedução de
sentido pela prática. Lindo
é um termo
simples e antigo. Posso concluir que, devido ao aumento dos canais de
comunicação propostos pela internet, a frequência do vocábulo
lindo
passou a ser intensa e embora tenha se ampliado o seu significado e
represente a dinâmica natural de uma língua, a falta de vocabulário
e de criatividade nesses casos são a razão principal. De qualquer
maneira, há de se compreender as possibilidades humanas de imaginação
e quiçá possam daqui a um tempo os usuários das redes sociais
conhecerem outros vocábulos tão formosos e belos como lindo
e o substituir nas devidas ocasiões.