21 de março de 2018 - fez cinco anos que minha mãe morreu. Ainda com muitas saudades do tempo em que com ela vivi, publico neste blog o texto que escrevi em homenagem a ela e publiquei na Tribuna de Petrópolis, em 10 de abril de 2013, após a doída, mas libertadora passagem dela para a eternidade (?)...
Para onde foi esse amor?
Pequenina, você me dava a mão para eu aprender a
andar. Depois, para me ensinar a atravessar a rua, andar de
bicicleta, andar de patins. Escrever e desenhar.
Lembro perfeitamente de sua mão me ajudando a
escrever. A preencher o caderno de caligrafia.
Você comprava bala de mel, lembra? Eu tossia
muito e ficava nervosa antes de ir para o colégio.
Operei a garganta, retirei as amígdalas, e ao
acordar da anestesia, no quarto do hospital, procurei você e era o
meu pai quem estava lá. Escrevi com o dedo no lençol: mãe? Não
lembro o que ele respondeu, certamente teria ido em casa cuidar dos
meus irmãos. Fiquei triste; logo, logo, você voltou.
E à noite? Geralmente eu tinha pesadelos
horrorosos. Gritava muito, você sempre aparecia e me confortava. Às
vezes, eu ia dormir em sua cama.
O meu amor por você foi crescendo e fui
entendendo a importância e a força que trazia.
Mais adulta, eu sempre encontrava sua mão e seus
olhos a me apoiarem. Acontecesse o que acontecesse, eu podia contar
com seu abraço e com uma saída para meus desencontros.
Mãe é assim, não é mesmo?
Anos se passaram e a vida mudou. De repente
percebi que era a sua mão que começava a pedir a minha mão. Para
atravessar a rua, subir e descer escadas. Passear, ir ao médico.
Aos poucos, comecei a me preocupar com você de
uma maneira diferente. Seus olhos passaram a necessitar do apoio dos
meus.
Engraçada a vida!
Antes, quando eu chorava, sabia que seu coração
sofria. Depois, quando você chorava, meu coração é que se
despedaçava.
Ah! A vida dói! E como dói!
O seu comportamento começou a mudar e você
passou a precisar cada vez mais de minha proteção e lealdade. Eu
não suportava ver você sofrer tanto.
Ainda que em alguns momentos estivéssemos
distantes, minha mão passou a segurar a sua. Para todo o sempre,
sabe?
Hoje, mãe, não escrevo sobre você: filha, mãe
e mulher. E, sim, sobre mim, e a saudade que sinto depois que você
se foi.
Quando a doença se instalou em sua mente e em seu
corpo, e você não conseguia falar direito, os seus olhos me olhavam
pedindo ajuda, sua mãozinha apertava a minha mão e seu braço
abraçava o meu pescoço.
Quanto mais a doença avançava, mais crescia o
meu amor por você. Esse sentimento de amor tomou vulto e preencheu
minhas horas, meus dias, minha vida...
Fui vencida pela morte. E um amor morreu junto com
você.
Será, mãe?
Para onde foi esse amor? De tão grande, de tão
forte, deveria ter virado uma estrela. Quem sabe?
Uma constelação? Talvez.
Vou esperar uma noite linda e ficarei olhando para
o céu. Pode ser que descubra uma nova estrela, enorme e reluzente...
Pode ser que os astrônomos também a descubram e
deem a ela o seu nome: MARIA CECÍLIA.