segunda-feira, 27 de maio de 2019

À BEIRA DO LAGO PARANOÁ



Fonte: Wikipédia

Esses dias, por acaso, na casa de amigos, assisti a uma entrevista da jornalista Andreia Sadi, na Globo News, com a esposa do vice-presidente da República, Paula Mourão. O local era de uma beleza extrema: o piso, as cores, a paisagem, um jardim imenso, o pôr do sol (uma parte da entrevista aconteceu na área externa), obras de arte espalhadas por toda a área interna. Estavam no Palácio do Jaburu, que é a residência oficial do vice-presidente de nosso país. À beira do lago Paranoá. Uma maravilha de construção!
Assuntos supérfluos, nada que fizesse motivar a curiosidade de uma telespectadora pouco interessada, na verdade, nessa entrevista. Assistindo por assistir, apenas. Muitos sorrisos, muita simpatia, todavia o que me chamou a atenção foi mesmo o local: belíssimo! De repente, a Sra. Paula Mourão recebeu um aviso de que o vice-presidente estava chegando e foi recebê-lo como – ela mesma contou – faz todos os dias. Envolto em seguranças e com a tranquilidade de missão cumprida dos generais da reserva, ele chegou. Brincadeiras e agrados à parte, voltaram à entrevista.
A seguir, a conversa bastante informal aconteceu no lado de dentro da residência. Local bastante amplo e de muito bom gosto. As perguntas continuaram suaves e de boa intenção jornalística. Nenhuma situação constrangedora e nenhuma informação relevante. Apenas uma boa conversa de comadres, eu diria.
Ah! Mas a residência oficial do vice-presidente é mesmo bela! Quanto espaço! Uma vista espetacular. Naquele momento, o sol e o lago criavam juntos uma beleza divina. Uma composição perfeita! Brasília é mesmo incrível! Naquele espaço, apenas do lado de fora, caberiam uns quatro barracos da periferia de lá, a periferia que existe em todo lugar.
Brasília - o centro do poder - é, de fato, um outro país. Naquela hora, pensei nas pessoas que vivem por aí, sem casa para morar. Confesso saber que ninguém, ou melhor, quase ninguém se importa com isso. Penso que dificilmente alguém que estivesse assistindo a tal entrevista estaria sequer lembrando dos barracos em comunidades carentes. Menos ainda dos cantos e vias das favelas em que se esconde a podridão perversa do tráfico. Quando olhei para a imagem do lago e a do pôr do sol, lembrei de uma reportagem sobre o absurdo percentual de pessoas vivendo, no Brasil, sem saneamento básico, com fezes boiando nas águas sob as janelas, se é que posso chamar de janelas aqueles quadrados nas paredes de tijolos aparentes. Um contraste dramático e incorrigível.
Local: Sol Nascente, Ceilândia, Brasília-DF
Fonte:  RadarDF, 15 jan. 2018
O destino é implacável, cada um tem o que merece nessa vida, é o que dizem por aí. Sei lá, este coração não compreende tanta injustiça social. Não adianta, digam o que quiserem, maldigam isso ou aquilo, entretanto este posicionamento será até morrer. O nome para isso é convicção. De que forma podem ser entendidos o desdém da sociedade e mais ainda o descaso das autoridades (se é que são autoridades), muito menos como se relacionar alheia à tristeza nos olhos das pessoas que vivem a pobreza e, bem mais que isso, convivem com a miséria.
À beira do lago Paranoá, o Palácio do Jaburu, uma afronta de tão belo e impávido, uma forma de mostrar ao povo o que significa tanto poder e descaramento.

  A angústia de um pesar      Durante a madrugada me vieram lembranças. Um tanto quanto estranha a minha alma estava que, ...