Chorei
um choro solitário nessa madrugada,
de
modo que ninguém ouviu…
Chorava
o meu coração,
choravam
também os meus olhos.
Sem
muito alvoroço, eu chorei baixinho,
de
modo que ninguém ouviu…
e
às vezes eu soluçava,
pensava
na tristeza de uma nação,
em
um povo sofrido.
Lembrava
dos olhos daqueles miseráveis
iguais
em todos os lugares, os miseráveis de Victor Hugo e
os
miseráveis de todo o mundo.
Chorava
dentro do peito e às vezes até tinha lágrimas,
eu
as secava devagarzinho, de modo que ninguém viu…
Chorei
durante um longo tempo
um
choro engolido, em saltos pela garganta.
Imaginava
as vozes que nunca são ouvidas,
as
dores que nunca têm solução.
Chorava
em silêncio, de modo que ninguém ouviu…
Um
choro que não era só meu,
um
chorar coletivo de gente pobre e faminta
com
a humildade no olhar.
Essa
gente que ninguém vê,
que
chora a vida toda e ninguém ouve...
Rita
Tré Becker