domingo, 28 de julho de 2019

UM CHORO QUE NINGUÉM OUVE



Chorei um choro solitário nessa madrugada,
de modo que ninguém ouviu…
Chorava o meu coração,
choravam também os meus olhos.
Sem muito alvoroço, eu chorei baixinho,
de modo que ninguém ouviu…
Apertado, o meu peito dificultava o meu respirar
e às vezes eu soluçava,
pensava na tristeza de uma nação,
em um povo sofrido.
Lembrava dos olhos daqueles miseráveis
iguais em todos os lugares, os miseráveis de Victor Hugo e
os miseráveis de todo o mundo.
Chorava dentro do peito e às vezes até tinha lágrimas,
eu as secava devagarzinho, de modo que ninguém viu…
Chorei durante um longo tempo
um choro engolido, em saltos pela garganta.
Imaginava as vozes que nunca são ouvidas,
as dores que nunca têm solução.
Chorava em silêncio, de modo que ninguém ouviu…
Um choro que não era só meu,
um chorar coletivo de gente pobre e faminta
com a humildade no olhar.
Essa gente que ninguém vê,
que chora a vida toda e ninguém ouve...
Rita Tré Becker

Um comentário:

  1. A obra de Victor Hugo é tão profunda que influenciou a várias gerações.
    O próprio filme, modificado diversas vezes, é uma forte acusação contra as enormes distâncias sociais.
    A obra de Victor Hugo, citado no belo poema acima, sempre me fez fazer uma profunda análise de como são tratadas todas as classes sociais.
    É um retrato da Humanidade, onde caminham os com e os sem voz.
    Belo poema. Nostálgico, mas Belo, profundo.

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