quinta-feira, 22 de março de 2018

CINCO ANOS DE AUSÊNCIA


21 de março de 2018 -  fez cinco anos que minha mãe morreu. Ainda com muitas saudades do tempo em que com ela vivi, publico neste blog o texto que escrevi em homenagem a ela e publiquei na Tribuna de Petrópolis, em 10 de abril de 2013, após a doída, mas libertadora passagem dela para a eternidade (?)...


Para onde foi esse amor?
Pequenina, você me dava a mão para eu aprender a andar. Depois, para me ensinar a atravessar a rua, andar de bicicleta, andar de patins. Escrever e desenhar.
Lembro perfeitamente de sua mão me ajudando a escrever. A preencher o caderno de caligrafia.
Você comprava bala de mel, lembra? Eu tossia muito e ficava nervosa antes de ir para o colégio.
Operei a garganta, retirei as amígdalas, e ao acordar da anestesia, no quarto do hospital, procurei você e era o meu pai quem estava lá. Escrevi com o dedo no lençol: mãe? Não lembro o que ele respondeu, certamente teria ido em casa cuidar dos meus irmãos. Fiquei triste; logo, logo, você voltou.
E à noite? Geralmente eu tinha pesadelos horrorosos. Gritava muito, você sempre aparecia e me confortava. Às vezes, eu ia dormir em sua cama.
O meu amor por você foi crescendo e fui entendendo a importância e a força que trazia.
Mais adulta, eu sempre encontrava sua mão e seus olhos a me apoiarem. Acontecesse o que acontecesse, eu podia contar com seu abraço e com uma saída para meus desencontros.
Mãe é assim, não é mesmo?
Anos se passaram e a vida mudou. De repente percebi que era a sua mão que começava a pedir a minha mão. Para atravessar a rua, subir e descer escadas. Passear, ir ao médico.
Aos poucos, comecei a me preocupar com você de uma maneira diferente. Seus olhos passaram a necessitar do apoio dos meus.
Engraçada a vida!
Antes, quando eu chorava, sabia que seu coração sofria. Depois, quando você chorava, meu coração é que se despedaçava.
Ah! A vida dói! E como dói!
O seu comportamento começou a mudar e você passou a precisar cada vez mais de minha proteção e lealdade. Eu não suportava ver você sofrer tanto.
Ainda que em alguns momentos estivéssemos distantes, minha mão passou a segurar a sua. Para todo o sempre, sabe?
Hoje, mãe, não escrevo sobre você: filha, mãe e mulher. E, sim, sobre mim, e a saudade que sinto depois que você se foi.
Quando a doença se instalou em sua mente e em seu corpo, e você não conseguia falar direito, os seus olhos me olhavam pedindo ajuda, sua mãozinha apertava a minha mão e seu braço abraçava o meu pescoço.
Quanto mais a doença avançava, mais crescia o meu amor por você. Esse sentimento de amor tomou vulto e preencheu minhas horas, meus dias, minha vida...
Fui vencida pela morte. E um amor morreu junto com você.
Será, mãe?
Para onde foi esse amor? De tão grande, de tão forte, deveria ter virado uma estrela. Quem sabe?
Uma constelação? Talvez.
Vou esperar uma noite linda e ficarei olhando para o céu. Pode ser que descubra uma nova estrela, enorme e reluzente...
Pode ser que os astrônomos também a descubram e deem a ela o seu nome: MARIA CECÍLIA.












  A angústia de um pesar      Durante a madrugada me vieram lembranças. Um tanto quanto estranha a minha alma estava que, ...