Resolvi postar alguns comentários meus, a respeito da questão da formação de leitores e a certeza de que pelo menos o início se dá em casa, no seio da família.
LEITURA COMO HERANÇA
Sem nenhuma sombra de dúvida, o gosto pela leitura inicia em casa,
com alguma pessoa da família que gosta de ler e a gente começa a
ter a curiosidade para tal, principalmente, se essa pessoa lhe causa
alguma admiração.
Em minha família, era o meu pai que gostava de ler; lembro de vê-lo
sempre com um jornal na mão. Naquela época era o Jornal do Brasil,
o JB. Lembro também de ouvir ele elogiar Chico Buarque; lembro mais
perfeitamente quando entrou na sala de nossa casinha e balançando um
papel na mão, dizia o quanto era linda aquela canção: Carolina, de
Chico Buarque de Hollanda. Sentou-se no sofá da sala e chamou a minha
mãe e, nós, os filhos. Estava escrita à mão. Leu em voz alta
aquela letra maravilhosa, repleta de lirismo:
Carolina,
Nos seus olhos fundos
Guarda tanta dor,
A dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei que não vai dar.
Seu pranto não vai nada mudar.
Eu já convidei para dançar.
É hora, já sei, de aproveitar.
Lá fora, amor,
Uma rosa nasceu.
Todo mundo sambou.
Uma estrela caiu.
Eu bem que mostrei sorrindo,
Pela janela, ói que lindo,
Mas Carolina não viu.
(...)
E assim ele cantou depois a canção.
Recordo-me também de ouvir ele elogiar David Nasser e o livro Por uma
menina morta. Elogiava também Chico Anísio e alguns outros.
O JB era um jornal de oposição, esquerdista, bem conceituado. Havia
ideologia; havia, a meu entender, é claro, uma imensa vontade de que
tudo desse certo. Vivíamos tempos de ditadura militar. Anos de
silêncio e aparências.
Portanto, a leitura fazia parte de minha família. E aquilo me dava
gosto.
Logo que cresci mais um pouco, passei a ler bastante. Inclusive
passei a presentear meu pai com livros.
Além de meu pai, e não posso deixar de citar, a mãe de uma amiga
muito querida gostava de ler e com ela conheci livros clássicos como
O morro dos vento uivantes e Jane Eyre, romances longos e belos.
Desenvolvi o gosto por sagas de família, com ela, a
Dona Teresa, mãe da Lúcia.
Meu irmão, minha irmã e eu, nos formamos leitores, dessa maneira,
no seio da nossa família.