Esses
dias, por acaso, na casa de amigos, assisti a uma entrevista da
jornalista Andreia Sadi, na Globo News, com a esposa do
vice-presidente da República, Paula Mourão. O local era de uma
beleza extrema: o piso, as cores, a paisagem, um jardim imenso, o pôr
do sol (uma parte da entrevista aconteceu na área externa), obras de
arte espalhadas por toda a área interna. Estavam no Palácio do
Jaburu, que é a residência oficial do vice-presidente de nosso
país. À beira do lago Paranoá. Uma maravilha de construção!
Assuntos
supérfluos, nada que fizesse motivar a curiosidade de uma
telespectadora pouco interessada, na verdade, nessa entrevista.
Assistindo por assistir, apenas. Muitos sorrisos, muita simpatia,
todavia o que me chamou a atenção foi mesmo o local: belíssimo! De
repente, a Sra. Paula Mourão recebeu um aviso de que o
vice-presidente estava chegando e foi recebê-lo como – ela mesma
contou – faz todos os dias. Envolto em seguranças e com a
tranquilidade de missão cumprida dos generais da reserva, ele
chegou. Brincadeiras e agrados à parte, voltaram à entrevista.
A
seguir, a conversa bastante informal aconteceu no lado de dentro da
residência. Local bastante amplo e de muito bom gosto. As perguntas
continuaram suaves e de boa intenção jornalística. Nenhuma
situação constrangedora e nenhuma informação relevante. Apenas
uma boa conversa de comadres, eu diria.
Ah!
Mas a residência oficial do vice-presidente é mesmo bela! Quanto
espaço! Uma vista espetacular. Naquele momento, o sol e o lago
criavam juntos uma beleza divina. Uma composição perfeita! Brasília
é mesmo incrível! Naquele espaço, apenas do lado de fora, caberiam
uns quatro barracos da periferia de lá, a periferia que existe em
todo lugar.
Brasília -
o centro do poder - é, de fato, um outro país. Naquela hora, pensei
nas pessoas que vivem por aí, sem casa para morar. Confesso saber
que ninguém, ou melhor, quase ninguém se importa com isso. Penso
que dificilmente alguém que estivesse assistindo a tal entrevista
estaria sequer lembrando dos barracos em comunidades carentes. Menos
ainda dos cantos e vias das favelas em que se esconde a podridão
perversa do tráfico. Quando olhei para a imagem do lago e a do pôr do
sol, lembrei de uma reportagem sobre o absurdo percentual de pessoas vivendo,
no Brasil, sem saneamento básico, com fezes boiando nas
águas sob as janelas, se é que posso chamar de janelas aqueles
quadrados nas paredes de tijolos aparentes. Um contraste dramático e
incorrigível.
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Local: Sol Nascente, Ceilândia, Brasília-DF Fonte: RadarDF, 15 jan. 2018 |
O
destino é implacável, cada um tem o que merece nessa vida, é o que
dizem por aí. Sei lá, este coração não compreende tanta
injustiça social. Não adianta, digam o que quiserem, maldigam isso
ou aquilo, entretanto este posicionamento será até morrer. O nome
para isso é convicção. De que forma podem ser entendidos o desdém da
sociedade e mais ainda o descaso das autoridades (se é que são
autoridades), muito menos como se relacionar alheia à tristeza nos
olhos das pessoas que vivem a pobreza e, bem mais que isso, convivem
com a miséria.
À
beira do lago Paranoá, o Palácio do Jaburu, uma afronta de tão
belo e impávido, uma forma de mostrar ao povo o que significa tanto
poder e descaramento.