O
gato – de quem falei antes - era filhote e se chamava Mescalito. O
nome de um personagem do livro de Carlos Castañeda, chamado A Erva
do Diabo. Era um dos autores mais lidos nos anos 80.
Nesse
morrinho, perdi um crucifixo e a corrente, ambos de prata. Eu
estimava muito essa joia. Senti muita tristeza, por isso.
O
pé de limão ficou grande e bonito. Meu pai dizia que um homem
precisava escrever um livro, ter filhos e plantar uma árvore. Ele
plantou o pé de limão, teve três filhos com minha mãe e que eu
saiba não escreveu nenhum livro.
-
Na vida, nem tudo acontece como nós prevemos.
O
quintal era o nosso mundo de criança. Corríamos para lá e para cá.
Minha
irmã, mais bebê, colocou um botão da flor de limão dentro
do nariz, minha mãe teve de sair correndo pra conseguir que ela o
colocasse para fora. E lembro foi difícil ela entender o movimento
de expulsar que precisaria fazer com as narinas.
Em
frente ao muro da casa, havia um poço. Em que as pessoas da vila e
às vezes da rua em frente apanhavam água com uma lata presa a um
pau. Faltava água da rua, por vezes.
E
esse momento de falta d'água se tornava um momento de prosa afiada
entre as pessoas. Muito bom! Tudo, em minha lembrança, era muito
bom.
Outro
dia vi uma foto desse quintal.
Minha irmã, naquela época, pequenininha, em pé. E por trás dela, no fundo da foto, a gente vê a Malharia Águia. Uma fábrica de maiôs, com fama internacional. Não está mais localizada ali, mas ainda existe.
Minha irmã, naquela época, pequenininha, em pé. E por trás dela, no fundo da foto, a gente vê a Malharia Águia. Uma fábrica de maiôs, com fama internacional. Não está mais localizada ali, mas ainda existe.
Uma
época de glamour. As misses – daqueles concursos de miss - vinham
de longe fazer prova dos maiôs. Tiravam fotos para revistas. E nós
- os moradores daqui de perto - ficávamos olhando, com o maior
gosto.
No
morrinho de saibro, eu ficava brincando. Havia umas aranhas não
perigosas, eu acho. Elas entravam em um buraco na terra e o cobriam
com uma espécie de teia mais consistente. Ficava uma tampinha na
terra.
Ali,
conheci também aqueles tatuzinhos, não sei se lembram ou se
conhecem. Uns pequeninos que fechados ficam iguais a uma bolinha
preta. Nunca mais os vi. Bem pequeninos mesmo.
Ah!
as contas da planta chamada popularmente como lágrimas de Nossa
Senhora! Nesse nosso quintal tinha um pé. Fazia colares com as
contas. Agulha, fio de nylon. Furava a bolinha e passava o fio de
nylon. Depois fechava, com um nó.
As
mulheres sempre costumam costurar, tecer os fios da vida. Montar os
colares, conta por conta. Arrumar as bolinhas, escolher as cores
entre os tons de verde. Textura. Tecido. Vida contada.
Conheci
as lesmas, moles, nojentas, babavam as plantas e o muro. As crianças,
sem ainda noção do que é mesmo mal, cometem algumas maldades
(inocentes!!). Em um certo dia, fiz um experimento: joguei água
fervendo sobre uma lesma, grande. Gorda. Comia pedaços de uma
planta.
-
Nossa! A lesma se desintegrou. Começou a abrir do lado. Encolher e
virou uma coisa esquisita, seca.
Ai,
que horror! Não me senti bem com aquilo. Talvez tenha entendido o
que não era bom. O que não se devia fazer. Chorei e pedi perdão a
Deus. Minha mãe me orientou, é lógico!
(Depois, continuo...)
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