LEITURA E COLHEITA
(III)
Continuando a resenha sobre o livro Leitura e Colheita, estamos na penúltima parte da Parte I:
Após uma longa
experiência como professora de Língua Portuguesa e Literatura,
Luzia de Maria se angustiava com ao que ela chama de pobreza de
ideias e penúria vocabular de muitos de seus alunos.
Concluiu que as
propostas de trabalho de leitura existentes e praticadas não
correspondiam de maneira tal para que os alunos se tornassem
leitores.
Foi a partir daí
que desenvolveu uma estratégia desafiadora em que, na escola,
elaborava uma lista de livros e deles fazia comentários
contundentes, a fim de incentivar os alunos à leitura, causando
neles o entusiasmo e a curiosidade. E mais um pouco além: a paixão.
Deu certo.
Deu certo.
Através da leitura nos antenamos com o mundo, viajamos ao passado longínquo e dialogamos com o ontem. Vislumbramos os sinais do futuro e nos situamos no aqui e no agora.
Muitas pessoas
dizem não haver tempo para ler. Dizem que é preciso não ter nada
para fazer a fim de poder parar para ler. E Luzia de Maria diz - com
toda razão - que o tempo é a gente que faz e que usamos nosso tempo
para aquilo que nós determinamos como prioridade. E por que não
priorizar a leitura? Ela cita, na página 82, para exemplificar o que
foi dito acima, alguns fragmentos de textos do livro Como um
romance, de Daniel Pennac, publicado pela Editora Rocco.
Nesse mesmo momento
do livro Leitura e Colheita, temos algumas perguntas e respostas e,
embora as perguntas e as respostas sejam todas de extrema
importância, destaquei uma que um participante fez a respeito da
idade que, então, se deveria começar a dar livros às crianças. E
a resposta vem de modo bastante objetivo: assim que abrissem os olhos
na maternidade. Luzia de Maria sugere que os livros sejam apresentados aos bebês do mesmo jeito como são apresentadas as pessoas mais
próximas.
Brincadeiras à
parte, ela afirma que os livros devem entrar na vida da criança o
quanto antes. Antes mesmo do pré-escolar.
Luzia de Maria
segue com considerações enfáticas e comentários apropriados,
citando o espantoso crescimento da população favelada, em
particular no Rio de Janeiro, e assim o crescimento da marginalidade
e a supressão da infância.
A política
salarial desumana faz com que as condições financeiras da família
sejam péssimas e forma o principal motivo que empurra as crianças
para as ruas. E é num aspecto inverso que as situações ocorrem: a
escolaridade deveria determinar o nível de renda mas o nível de
renda é que determina a escolaridade.
Reitera o
ressurgimento da criação das escolas em tempo integral, a exemplo
dos CIEPs. Um verdadeiro centro de formação com oito horas diárias
de convivência. Elogia os centros integrados, os famosos Brizolões,
e aponta três erros fundamentais para não terem ido adiante.
Nada que na opinião dela - e também em minha opinião - não
pudesse ser corrigido.
Um programa
educacional daquela dimensão sem dignificar a figura do professor
que recebia salários ínfimos há décadas. Escolas outras da rede
estadual continuaram funcionando, mas com poucos recursos. Além do
custo alto que também serviu de justificativa para que o projeto
CIEP fosse completamente desmantelado. E é nesse momento que ela faz
a seguinte pergunta: o que é melhor? Um custo alto para aproveitar o
potencial das crianças e vislumbrar esperança no horizonte ou
manter prisões, resguardando a dignidade dos presos.
Em capítulos
seguintes, que é a Parte II do livro, comenta descrevendo a educação
em Cuba, no Japão e a dimensão europeia de educação, com maestria,
e segue exemplificando, para maior esclarecimento ao leitor. São
três capítulos:
- Cuba: uma educação com aval da Unesco
- Japão:
disciplina rigorosa ou envolvimento pessoal
- Interação e
intercâmbio numa dimensão europeia de educação.
Leitura
é exercício da condição de pensar, é alimento para a imaginação,
é refinamento do espírito.
Luzia
de Maria
A Parte III e última
ficará para o próximo post
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