quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

LEITURA E COLHEITA (III) - O FASCÍNIO DA LEITURA (continuação)



LEITURA E COLHEITA (III)


Continuando a resenha sobre o livro Leitura e Colheita, estamos na penúltima parte da Parte I:

Após uma longa experiência como professora de Língua Portuguesa e Literatura, Luzia de Maria se angustiava com ao que ela chama de pobreza de ideias e penúria vocabular de muitos de seus alunos.
Concluiu que as propostas de trabalho de leitura existentes e praticadas não correspondiam de maneira tal para que os alunos se tornassem leitores.

Foi a partir daí que desenvolveu uma estratégia desafiadora em que, na escola, elaborava uma lista de livros e deles fazia comentários contundentes, a fim de incentivar os alunos à leitura, causando neles o entusiasmo e a curiosidade. E mais um pouco além: a paixão.
Deu certo.

Através da leitura nos antenamos com o mundo, viajamos ao passado longínquo e dialogamos com o ontem. Vislumbramos os sinais do futuro e nos situamos no aqui e no agora.

Muitas pessoas dizem não haver tempo para ler. Dizem que é preciso não ter nada para fazer a fim de poder parar para ler. E Luzia de Maria diz - com toda razão - que o tempo é a gente que faz e que usamos nosso tempo para aquilo que nós determinamos como prioridade. E por que não priorizar a leitura? Ela cita, na página 82, para exemplificar o que foi dito acima, alguns fragmentos de textos do livro Como um romance, de Daniel Pennac, publicado pela Editora Rocco.

Nesse mesmo momento do livro Leitura e Colheita, temos algumas perguntas e respostas e, embora as perguntas e as respostas sejam todas de extrema importância, destaquei uma que um participante fez a respeito da idade que, então, se deveria começar a dar livros às crianças. E a resposta vem de modo bastante objetivo: assim que abrissem os olhos na maternidade. Luzia de Maria sugere que os livros sejam apresentados aos bebês do mesmo jeito como são apresentadas as pessoas mais próximas.
Brincadeiras à parte, ela afirma que os livros devem entrar na vida da criança o quanto antes. Antes mesmo do pré-escolar.

Luzia de Maria segue com considerações enfáticas e comentários apropriados, citando o espantoso crescimento da população favelada, em particular no Rio de Janeiro, e assim o crescimento da marginalidade e a supressão da infância.
A política salarial desumana faz com que as condições financeiras da família sejam péssimas e forma o principal motivo que empurra as crianças para as ruas. E é num aspecto inverso que as situações ocorrem: a escolaridade deveria determinar o nível de renda mas o nível de renda é que determina a escolaridade.
Reitera o ressurgimento da criação das escolas em tempo integral, a exemplo dos CIEPs. Um verdadeiro centro de formação com oito horas diárias de convivência. Elogia os centros integrados, os famosos Brizolões, e aponta três erros fundamentais para não terem ido adiante. Nada que na opinião dela - e também em minha opinião - não pudesse ser corrigido.

Um programa educacional daquela dimensão sem dignificar a figura do professor que recebia salários ínfimos há décadas. Escolas outras da rede estadual continuaram funcionando, mas com poucos recursos. Além do custo alto que também serviu de justificativa para que o projeto CIEP fosse completamente desmantelado. E é nesse momento que ela faz a seguinte pergunta: o que é melhor? Um custo alto para aproveitar o potencial das crianças e vislumbrar esperança no horizonte ou manter prisões, resguardando a dignidade dos presos.

Em capítulos seguintes, que é a Parte II do livro, comenta descrevendo a educação em Cuba, no Japão e a dimensão europeia de educação, com maestria, e segue exemplificando, para maior esclarecimento ao leitor. São três capítulos:

- Cuba: uma educação com aval da Unesco
- Japão: disciplina rigorosa ou envolvimento pessoal
- Interação e intercâmbio numa dimensão europeia de educação.


Leitura é exercício da condição de pensar, é alimento para a imaginação, é refinamento do espírito.
Luzia de Maria

A Parte III e última ficará para o próximo post

Nenhum comentário:

Postar um comentário

  A angústia de um pesar      Durante a madrugada me vieram lembranças. Um tanto quanto estranha a minha alma estava que, ...