quinta-feira, 31 de março de 2016

UM ARIANO DE RESPONSABILIDADE


Embora tenha passado o dia 27 de março, penso que ainda é tempo de homenagear um poeta contemporâneo que eu gosto tanto de ler e que nasceu nesse dia.

Do signo de áries, Affonso Romano de Sant'anna é sublime.

Uma vez li, em um recorte de jornal, Quando os amantes dormem. Lindo! Bonito demais! Mais tarde descobri que aquele texto que guardo, ainda com marcas de dobras, em minha gaveta, fora escrito por ele, Affonso Romano de Sant'anna.

Um verdadeiro maestro dos sentimentos!

Hoje, em homenagem a este grande escritor, e a mando de meu coração, eu vou publicar aqui neste blogue o poema SEPARAÇÃO, de autoria dele.

"Separação

Desmontar a casa
e o amor. Despregar
os sentimentos das paredes e lençóis.
Recolher as cortinas
após a tempestade
das conversas.
O amor não resistiu
às balas, pragas, flores
e corpos de intermeio.

Empilhar livros, quadros,
discos e remorsos.
Esperar o infernal
juízo final do desamor.

Vizinhos se assustam de manhã
ante os destroços junto à porta:
- pareciam se amar tanto!

Houve um tempo:
uma casa de campo,
fotos em Veneza,
um tempo em que sorridente
o amor aglutinava festas e jantares.

Amou-se um certo modo de despir-se
de pentear-se.
Amou-se um sorriso e um certo
modo de botar a mesa. Amou-se
um certo modo de amar.

No entanto, o amor bate em retirada
com suas roupas amassadas, tropas de insultos
malas desesperadas, soluços embargados.

Faltou amor no amor?
Gastou-se o amor no amor?
Fartou-se o amor?

No quarto dos filhos
outra derrota à vista:
bonecos e brinquedos pendem
numa colagem de afetos natimortos.

O amor ruiu e tem pressa de ir embora
envergonhado.

Erguerá outra casa, o amor?
Escolherá objetos, morará na praia?
Viajará na neve e na neblina?

Tonto, perplexo, sem rumo
um corpo sai porta afora
com pedaços de passado na cabeça
e um impreciso futuro.
No peito o coração pesa
mais que uma mala de chumbo."


Fenomenal!!

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